sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

História Viva

Há uns dia, em uma visita ao meu amado avô paterno, tive a ótima experiência de conversar com ele sobre seus tempos de mocidade. Desde esse dia fiquei refletindo sobre quão ricas podem ser as conversas com os nossos idosos e como damos pouco valore à eles. 
Sempre amei história, desde que entrei no primário é a minha matéria preferida, passei a vida enfiada em livros e pesquisando sobre o passado de vários países, sobre acontecimentos de décadas, centenas e até milhares de anos antes de eu nascer. 
O passado sempre me fascinou e nunca tinha me dado conta de que o passado sempre esteve no meu presente, representado pelos meus avós. 
Meu avô por exemplo, nasceu em 1922, já viveu quase um século inteiro e vivenciou o começo de dois séculos. Presenciou a Segunda Guerra Mundial, a Grande Depressão, o inicio e o fim da Guerra Fria e viu grandes potências mundiais entrarem e saírem do poder. 
No Brasil viu o fim da República Velha, viu nascer e morrer a República Nova e viu o surgimento da nossa Nova República; viu quase 30 presidentes tomarem posse e votou na maioria dessas eleições; perdeu amigos na ditadura militar e vibrou de felicidade ao ver seu fim; e estava com a televisão ligada quando nossa capital foi criada. Inclusive, é até mais antigo que a própria televisão, viu surgir seu primeiro modelo e hoje tem a chance de ver um filme em um televisão 3D. Viu surgir os primeiros modelos de carros populares, usou modelos de telefones dos mais arcaicos e hoje pode fazer ligações em um celular de última geração. Viu surgir os primeiros computadores e a criação da internet, embora não dê a mínima bola para isso. Além disso e de várias coisas maravilhosas, as quais eu poderia passar horas citando, foi um dos milhares de nordestinos que deixaram suas terras e famílias em busca de condições melhores em São Paulo e que, com força e coragem, venceram e hoje fazem parte da história e da mista cultura Paulista. Como diz a música do nosso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a qual é a cara da história do meu avô, do meu pai e de tantos outros brasileiro que nos dão orgulho: "Só trazia a coragem e a cara, viajando num pau-de-arara, eu penei, mas aqui cheguei...". 
O que eu quero dizer com tudo isso, é que já está mais do que na hora de revermos a forma como tratamos nossos idosos e dar à eles o valor que merecem. 
Não estou dizendo que a velhice isenta a pessoa de tudo de ruim que fez durante a vida, porém devemos respeitar os anos que eles trazem nos olhos, na mente e no coração e valorizar e aprender com eles. 
Temos a mania de tratar os idosos como crianças, que não têm vontade própria e que só falam sandices. Sabemos que algumas doenças e problemas trazidos pela idade, afetam a memória e o juízo dos mais velhos, porém, além de não acontecer com todos, isso não faz com que suas vivências sejam apagadas e compartilhar com eles é faze-los viver, relembrar e reativar suas memórias. Eu mesma, conversei várias vezes com a minha avó materna sobre sua infância, nos tempos do bonde no Brás e sobre a vinda dos seus avós italianos pra o Brasil, sem nem me dar contar de estar enriquecendo meu conhecimento muito mais do que se eu tivesse lido vários livros. 
De vez em quando é ótimo trocar os livros, a internet e a televisão por algumas horinhas de conversa com nossos avós ou idosos do nosso convívio e até uma visitinha à um asilo, faz muito bem para eles, mas  principalmente para nós. 
Muitas vezes ficamos chocados ao nos depararmos com idosos abandonados em asilos e com noticias de maus-tratos que vemos na mídia por aí. Mas será que aparecer de vez em quando para uma visita não é tão cruel quanto deixá-los jogados em um asilo? Será que ignorar suas histórias e não tirar alguns minutos para ouvi-los, não é maltratar toda sua vivência e luta? Para mim é a mesma coisa! Pena eu ter percebido isso só agora e ter perdido boas conversar com os meus avós. 
Precisamos dar mais valor à nossa história, à nossa cultura, ao nosso país e principalmente aos nossos idosos, que são a história viva, pronta para ser contata, para quem está disposto a ouvir e por quem realmente a viveu. 

"A juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar." Jean Jacques Rousseau